Bitcoin

Nouriel Roubini diz que Bitcoin é muito pior do que a bolha das tulipas, a “mãe de todas bolhas”.

Pelas minhas contas, considerando a máxima no intraday no dia 17 de dezembro ($19,530) com o preço neste momento ($7,983), a desvalorização já alcançou quase 60%.

Entrevista com Mohamed El-Erian

Entrevista interessante com El-Erian, ex-CEO/CIO da Pimco. El-Erian Acredita que estamos próximos de uma bolha nos mercados deenvolvidos, devido às ações dos bancos centrais nos países desenvolvidos:

Q. Where is your money? Stocks? Treasuries? Bonds?

A. It is mostly concentrated in cash. That’s not great, given that it gets eaten up by inflation. But I think most asset prices have been pushed by central banks to very elevated levels.

Q. So we’re nearing a bubble?

A. Go back to central banks. Central banks look at growth, at employment, at wages. They are too low. They don’t have the instruments they need, but they feel obliged to do something. So they artificially lift asset prices by maintaining zero interest rates and by using their balance sheet to buy assets.

Why? Because they hope that they will trigger what’s called the wealth effect. That you will open your 401k, see it has gone up in price, and you’ll spend. And that companies will see their shares are going up and they will be more willing to invest. But there is a massive gap right now between asset prices and fundamentals.

Pirâmide do ECB/Grécia e outros

Neste link uma newsletter muito interessante da Maudin Economics. Particularmente interessante a explicação sobre o que Maudin (e outros) estão chamando de “esquema de Pirâmide” entre o ECB (European Central Bank) e os países europeus. Maudin toma como exemplo a Grécia. De maneira simplificada, funciona da seguinte maneira:

  • Para pagar o dinheiro que deve ao ECB, o governo da Grécia vende títulos (Treasury Bills), os quais são comprados, em sua maioria, por bancos domésticos gregos
  • Os bancos domésticos gregos recebem assistência emergencial de liquidez do Bank of Greece (BC grego), financiado pelo ECB, dando como colateral os títulos do governo grego
  • Com o dinheiro recebido, os bancos compram mais títulos do governo grego, que podem utilizar como colateral para emprestar mais dinheiro do ECB (através do Bank of Greece)

Ou seja, aparentemente os bancos domésticos da Grécia estão usando dinheiro do ECB para comprar títulos gregos, que servem de colateral para poderem continuar a tomar empréstimos do ECB. Ao mesmo tempo, o governo grego vende títulos para os bancos domésticos (financiados pelo ECB) para obter recursos e pagar o dinheiro que deve ao ECB.

Obviamente não é tão simples assim. Um esquema ajuda (clique para aumentar):

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leiam o texto, vale a pena.

 

Nota

Valor – Krugma…

Alguns links legais

  1. Valor – Krugman elogia política monetária do BC brasileiro
  2. Ivanhoff – “We put tremendous weight on the short-term price action, while it often represents just noise. Because it’s easier, we’re inclined to use our recent experience as the baseline for what will happen in the future. We project the most recent events into eternity and make unwise decisions.”
  3. FT Alphaville – Correlações no mundo risk on, risk off
  4. Erosão das anomalias de mercado
  5. Robustez do efeito de volatilidade idiossincrática

Ciência, mercado e vieses psicológicos

O que um cientista, um trader e um pesquisador na área de Finanças tem em comum?

Todos são afetados pelos mesmos tipos de vieses psicológicos. Seres humanos gostam de validação, ainda quando essa validação implica em ganhos pessoais. No caso de um cientista ou um pesquisador em Finanças, a validação de seus resultados por outros pesquisadores resulta em publicações e citações. No caso de um trader, ser validado significa estar certo sobre certo aspecto do Mercado. Em todos os casos, a validação pode vir acompanhada de benefícios financeiros.

Um artigo muito interessante no New Yorker apresenta uma visão fria e dura da Ciência. O artigo aborda o chamado “efeito de declínio” – o fato de que muitos resultados científicos estatisticamente significantes, publicados em jornais revisados por pares e replicados por outros cientistas, tendem a diminuir ou até desaparecer com o tempo. O efeito em si parece estar bem documentado, aparecendo em áreas diversas como psicologia, medicina e biologia evolucionária.

As causas deste fenômeno ainda não foram completamente definidas, mas dois fatores parecem ser muito importantes: os vieses psicológicos dos seres humanos, e a própria aleatoriedade da Natureza, que se recusa a se encaixar nos padrões bem-comportados dos testes estatísticos. É interessante (porém não deveria ser surpreendente) que até a Ciência, que se propõe a fornecer um padrão estrito da evidência necessária para validar uma teoria, seja afetada pelos vieses psicológicos. Meta-estudos (pesquisas a respeito de outras pesquisas) mostram que os jornais tendem a publicar desproporcionalmente resultados positivos. Estudos que não confirmam ou não encontram os efeitos desejados tendem a ficar no esquecimento. E mesmo quando um efeito é inicialmente comprovado, mas refutado por estudos subsequentes, ele ainda tende a ser citado como fato. Isso reflete os vieses psicológicos tanto dos cientistas que conduzem os estudos, como dos que os avaliam para publicação nos jornais acadêmicos (afinal, os dois grupos tem grande interseção).

Não pude deixar de fazer um paralelo com os estudos das chamadas anomalias no mercado financeiro – efeitos que aparentemente fornecem um “almoço grátis” para investidores astutos, como os efeitos de tamanho, valor, momento e reversão. Por exemplo, em um artigo recente, Khandani e Lo mostram que o desempenho de uma estratégia simples de reversão à média, que consiste em comprar as ações perdedoras e vender as ações ganhadoras, têm diminuído significantemente ao longo dos anos. Algo similar aconteceu com o efeito de tamanho – a tendência das ações de empresas pequenas, com baixo valor de mercado, apresentarem retornos maiores do que as ações de empresas grandes. Registrado por Banz em 1981, o efeito parece ter desaparecido em seguida (apesar de alguns pesquisadores afirmarem que ele nunca foi consistente em primeiro lugar, devido à efeitos de microestrutura e influências de outros efeitos).

Apesar da aparente similaridade, no mercado financeiro existe uma força óbvia responsável pela diminuição destes efeitos – a presença de arbitradores, que tentam explorar ao máximo qualquer possibilidade de lucro fácil. Mas o que dizer das anomalias que não foram reportadas em primeiro lugar? A área de Finanças é duplamente afetada pelos vieses psicológicos humanos. As movimentações dos preços refletem as expectativas dos players do mercado, com suas visões tão falhas quanto as de qualquer outra pessoa. Em seguida, os pesquisadores, com seus próprios vieses, tendem entender o comportamento dos mercados. Neste processo, resultados positivos são reportados com muitos mais frequência do que os negativos. O trabalho do acadêmico que detectou a existência de uma “anomalia” provavelmente tem mais chances de ser publicado do que o do que não encontrou significância nas suas análises. Além disso, existe o chamado efeito de data-snooping – milhares de pesquisadores, analisando os mesmos dados, encontrarão padrões estatisticamente significantes, mas que podem ter ocorrido por acaso.

Isso não significa que o método científico não seja a melhor maneira de aprender sobre a natureza ou o mercado. Mas, sendo aplicado por humanos, o método científico está sujeito a todo tipo de falha na cognição dos aplicadores.

 

 

 

O beco sem saída de Wall Street

Opinião interessante de Felix Salmon no NYT sobre a (falta de) relevância, dos mercados de ações nos EUA. O ponto levantado por Felix é de que, atualmente, apenas as empresas mais antigas tem alguma vantagem em estarem listadas nas bolsas de lá. As empresas novas e dinâmicas, como Facebook, Twitter etc, tem captado recursos de maneira privada, e apenas os membros de uma elite super-rica tem condições de investir nelas. As empresas tem menos dores de cabeça, pois não precisam seguir as inúmeras regras ditadas pela SEC (a CVM dos EUA), e podem focar mais no negócio ao invés de focar em relatórios de resultados e reuniões com acionistas.

Ao mesmo tempo, o que é dito ser a função principal do mercado – alocar capital eficientemente entre os projetos na sociedade – não parece ser comprido. Empresas como Apple tem um caixa monstruoso – dinheiro que está essencialmente parado. Esse dinheiro poderia ser distribuído aos acionistas na forma de dividendos. Porém, isso geraria custos fiscais aos acionistas, e de captação para a empresa, caso precise levantar capital novamente (o que está longe de ser o caso da Apple) . O mercado de ações teria virado, nos EUA, um lugar onde especuladores e algoritmos se encontram, para decidir quem consegue obter mais lucro.

No Brasil, vejo uma situação ainda muito incipiente. Nossa economia está expandindo, e poucas empresas tem capital aberto, ou seja, ainda há muito espaço para o mercado de ações crescer. Além disso, emitir equity ainda parece ser uma maneira comparativamente barata de levantar capital por aqui, dadas as taxas de juros elevadas.

Momentum

Reportagens na Economist sobre o chamado efeito de momento (ou momentum) nos mercados de capitais:

http://www.economist.com/node/17851295?story_id=17851295

http://www.economist.com/node/17848665

Na literatura acadêmica, o efeito (ou anomalia) de momentum nos mercados de capitaise refere-se ao fenômeno de continuação de tendências de curto prazo nos preços de ações. Quando ações são ordenadas pelo retorno acumulado em um intervalo de alguns meses até um ano, as ações ganhadoras, que tiveram maior retorno neste intervalo, tendem a continuar ganhando nos próximos meses, enquanto as perdedoras, que tiveram o pior retorno no período de ordenamento, tendem a continuar performando mal. Um investidor poderia formar uma carteira caixa-neutra, comprando as ganhadoras e vendendo as perdedoras. Nos mercados desenvolvidos (EUA/Europa), essa estratégia  geraria um retorno da ordem de 10% anualizado, o que é bem alto para o padrão de lá. No Brasil, creio que essa estratégia não funciona tão bem.

O fenômeno de momentum é um desafio para a teoria de finanças, particularmente a visão do mercado eficiente, segundo a qual os preços em qualquer momento refletem toda a informação disponível, e qualquer informação nova é assimilada imediatamente. Se as ações que mais subiram nos últimos 6 meses, por exemplo, sempre performassem melhor nos próximos meses, a teoria diz que os investidores começariam a comprá-las sempre um pouco antes, para explorar a arbitragem, até que a anomalia desaparecesse. Mas isso não aconteceu. O retorno da estratégia também não pode ser explicado por argumentos de risco, nem (completamente) por fricções no mercado como custos operacionais.

No meu artigo de 2008, descobri que a estratégia não dava retornos ajustados a risco significantes após a explosão da bolha da internet em 2000 (os dados do artigo vão até 2006). Preciso atualizá-lo para ver o que acontece no período mais recente, que contém a explosão de outra bolha. O que me falta é tempo.