Um tema recorrente no blog é a Hipótese do Mercado Eficiente. Em um post anterior, comentei sobre um artigo, que foi publicado em um dos mais conceituados jornais acadêmicos de finanças, que demonstra que os retornos das chamadas “anomalias” no mercado financeiro – sinais preditores de retornos futuros como momentum, value vs growth – tendem a diminuir após tornarem-se conhecidos.
O número de anomalias, ou fontes de previsibilidade de retorno, multiplicou-se enormemente nos últimos anos, o que levanta algumas questões: quais destes previsores de retorno são legítimos, e quais são o resultado de data mining, ou seja, resultados espúrios obtidos devido ao grande número de estudos feitos sobre a mesma base de dados? Dentre os sinais que aparentam ser legítimos, quais representam recompensa por risco, e quais são o resultado de ineficiências ou fricções no mercado? Estas são questões centrais no apreçamento de ativos.
Um artigo recente no Review Of Financial Studies (um dos jornais mais conceituados de Finanças, junto com o JF) estuda simultaneamente 94 sinais previsores de retorno, incluindo vários tipos de variáveis baseadas em retornos passados, liquidez, informações de balanço das empresas, e conclui que apenas alguns são razoavelmente confiáveis como previsores de retornos. Além disso, os autores mostram que a previsibilidade destes fatores basicamente deixou de existir após 2003, um sinal forte de que o aumento da atividade de arbitragem torna os mercados mais eficientes.
O gráfico abaixo, do artigo, mostra o retorno acumulado de uma estratégia que utiliza os preditores de retorno para formar uma carteira hedgeada com as melhores/piores ações. Após 2003, os retornos da estratégia basicamente ficam estagnados, a não ser entre ações muito pequenas – as chamadas microcaps, onde as fricções de mercado e custo operacional tornam difícil explorar a previsibilidade.